União de mulheres resulta em ações de mapeamento da Lagoa de Ibiraquera
Atualizado: 16 de nov.

O amor e respeito pela Lagoa de Ibiraquera é visível nos olhos das mulheres que se juntaram em prol da proteção desse importante ecossistema lagunar de Imbituba. Unidas, saíram a campo para realização das ações de mapeamento da mata ciliar e dos cursos d'água da lagoa, nas últimas semanas.
As ações fazem parte do Projeto “Mulheres da Lagoa de Ibiraquera: em ação pelo fortalecimento comunitário e justiça climática”, realizado pelo Movimento Mulheres Unidas Pelo Clima (MUC Brasil), através da chamada “Mulheres Liderando a Ação Climática 2023”, com apoio do Fundo Casa Socioambiental, através da Aliança GAGGA (Global Aliance for Green and Gender Action), e parceria local do Conselho Comunitário de Ibiraquera (CCI).

Com perímetro de 30,478 km e área total de 8,935 km², a Lagoa de Ibiraquera é uma das mais importantes do complexo lagunar do sul de Santa Catarina, onde quatro lagoas interconectadas formam esse importante mosaico. A pé, o grupo de mulheres da comunidade representadas pelo Conselho Comunitário e pelo Muc Brasil, percorreu durante dois dias o trecho da Lagoa de Cima e da Lagoa do Meio, onde ambas totalizam 13 km de perímetro, o equivalente a aproximadamente 5 km2.
O mapeamento da mata ciliar e dos cursos d'água que deságuam na Lagoa de Ibiraquera tem com objetivo fazer o levantamento da situação atual, pois a preservação é “importante para conter processos erosivos causados pelas ondas geradas por fortes ventos e pela flutuação do nível da lagoa. Por ser uma lagoa de barra intermitente, às vezes está aberta e em outros momentos fechada. Essa vegetação também age como barreira de retenção de sedimentos e outros agentes poluentes mobilizados dos terrenos e arruamentos durante as temporadas de chuvas”, explica a geóloga e moradora da comunidade, Paula Marimon.
Segundo a geógrafa responsável pelo mapeamento e também moradora da comunidade, Claudete Medeiros, a mata ciliar da lagoa fornece um importante serviço ecossistêmico para a região, garantindo filtragem do material que escoa pro seu interior, “além de reter a erosão e a vegetação lagunar funcionar como berçário para os crustáceos e peixes que abastecem nossa lagoa e servem como recurso de subsistência ou renda pra comunidade tradicional local”, enfatiza.

Entre os principais problemas enfrentados no entorno da lagoa, estão a falta de saneamento básico, a ocupação em Área de Preservação Permanente (APP), a instalação de criadouro de camarão e pecuária nas proximidades da orla, além do fechamento de caminhos tradicionais e acessos públicos da lagoa.
Os acessos públicos, segundo a comunidade, costumam ser invadidos por loteamentos e propriedades privadas, que fecham caminhos tradicionais dos pescadores e da população local. “Além dos decks e trapiches privados em áreas coletivas que inibem o uso e atrapalham o pescador na circulação da lagoa pela beira d'água”, ressaltam.
“O ponto mais urgente no que se refere às ações de proteção da lagoa sem sombra de dúvidas é a providência de um saneamento básico eficiente que evite sua contaminação e os corpos d'água que a abastecem, além da restauração das matas ciliares e conservação dos rios afluentes”, destacou Claudete.
Ainda será realizada mais uma saída de campo para finalizar o trecho total da lagoa e, então, iniciar as análises técnicas e sistematização dos dados coletados. O resultado será a construção de um mapa georreferenciado para uso da comunidade em ações de planejamento e proteção do território.
Projeto Mulheres da Lagoa de Ibiraquera acontece pelo segundo ano na localidade:

O projeto, que já teve sua primeira versão realizada com a comunidade em 2021, neste ano, está focado em ações de incidência direta no território, além de atividades de educação ambiental.
Planejado com base em demandas da comunidade levadas ao CCI em oficinas comunitárias de revisão do Plano Diretor Municipal e outras demandas feitas por busca ativa junto às mulheres da localidade, tem como propósito realizar ações práticas de orientação, educação ambiental e levantamento de dados necessários para uma maior proteção socioambiental do território.
As ações propostas consistem em práticas de mapeamento para o georreferenciamento da mata ciliar e corpos d'água, sinalização de áreas de preservação permanente (APPs), aliada a atividades de educação ambiental sobre resíduos sólidos, e encontros de engajamento, mobilização e fortalecimento de mulheres que vivem na região da Lagoa de Ibiraquera.
“Com ações interconectadas que unem a prática e a teoria interligadas aos impactos das mudanças climáticas e de igualdade de gênero, pretendemos atender às demandas dos diferentes grupos de mulheres e da comunidade em geral, na defesa dos direitos socioambientais e do fortalecimento comunitário”, destaca a Diretora de Estratégia e Comunicação do Muc Brasil, Gisele Elis.
Todas nossas ações serão realizadas por mulheres e moradores da comunidade, incluindo as prestações de serviços, contando também com o apoio da organização parceira local, que tem sua diretoria formada em sua maioria por mulheres.
“Pretendemos engajar e fortalecer a comunidade com ações de que darão visibilidade à importância da proteção e conservação socioambiental do território, principalmente das áreas de nascentes e banhados, cada vez mais impactadas pelo desmatamento, especulação imobiliária e construções irregulares nesta região de extrema importância ecológica e pesqueira”, complementa a Diretora Administrativa e de Educação Ambiental do Muc Brasil, Cristiane Bossoni.
Saiba mais sobre a região onde acontece o projeto:

A Lagoa de Ibiraquera, em Imbituba, possui uma pequena parte que pertence ao município de Garopaba e a maior ao município de Imbituba, sendo a parte da barra, abrangida pela Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF).
"Vale destacar que a Lagoa de Ibiraquera, rodeada de mais de cinco praias, entre elas a famosa Praia do Rosa, é um ambiente frágil e riquíssimo em geobiodiversidade e sociobiodiversidade, abrigando em seu território comunidade tradicional agricola pesqueira e comunidade remanescente quilombola", finalizou Claudete Medeiros.
Jornalista Responsável: Gisele Elis (MTB 6822)