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Relatório da ONU confirma mudança climática generalizada, rápida e intensa

Atualizado: 10 de ago. de 2021

por Gisele Elis


Confirmando o que os cientistas já diziam e com destaque para o “Ponto da Virada”, foi divulgado hoje, dia 9, o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas –IPCC. Esse é o sexto documento produzido, desde 1990, e foi aprovado por 195 países membros dos governos que compõem o comitê do Painel e confirma as previsões feitas nos anteriores.


O relatório estima que o limiar do aquecimento global (de + 1,5° centígrado), em comparação com o da era pré-industrial, vai ser atingido em 2030, dez anos antes do que tinha sido projetado anteriormente, "ameaçando a humanidade com novos desastres sem precedentes". mostra uma avaliação científica dos últimos sete anos e "deve significar o fim do uso do carvão e dos combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta", segundo avaliação do Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres, em comunicado.

confirma as previsões feitas nos anteriores.


Imagem fogo na Grécia, agosto/2021 - Foto: ANP

De acordo com o documento do IPCC, a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases de efeito estufa. No novo relatório, que saiu com atraso de meses devido à pandemia de covid-19, o painel considera vários cenários, dependendo do nível de emissões que se alcance.


“Está claro há décadas que o clima da Terra está mudando e o papel da influência humana sobre o sistema climático é indiscutível”, disse Valérie Masson-Delmotte, do Grupo de Trabalho I do IPCC. No entanto, o novo relatório também reflete os principais avanços na ciência da atribuição - compreender o papel das mudanças climáticas na intensificação de eventos meteorológicos e climáticos específicos, como ondas de calor extremas e chuvas intensas. Para a ambientalista e líder comunitária da Lagoa de Ibiraquera, no litoral sul de Santa Catarina, Maria Aparecida Ferreira, a mudança climática já é perceptível na vivência pesqueira artesanal. “Um exemplo é a pesca da tainha, o ciclo dela está mudando, não estão desovando no tempo certo, tá muito diferente. Hoje ir pescar com quadrante da lua já não tá mais dando pra se basear, eles mudaram de época. O defeso já não está mais compatível com o período dele. Vários tipos de pescado não procriam e não desovam mais na mesma época. Uma grande ameaça ao ecossistema como um todo e a vida dos pescadores”, explica.


Manter a atual situação, em que a temperatura global é, em média, 1,1 grau mais alta que no período pré-industrial (1850-1900), não seria suficiente: os cientistas preveem que, dessa forma, se alcançaria um aumento de 1,5 grau em 2040, de 2 graus em 2060 e de 2,7 em 2100.


“Este relatório é uma verificação da realidade”, disse Masson-Delmotte. "Nós agora temos uma imagem muito mais clara do clima passado, presente e futuro, o que é essencial para entender para onde estamos indo, o que pode ser feito e como podemos nos preparar”.

O relatório também mostra que as ações humanas ainda têm o potencial de determinar o curso futuro do clima. A evidência é clara de que o dióxido de carbono (CO2) é o principal impulsionador das mudanças climáticas, mesmo como outros gases de efeito estufa e poluentes do ar também afetam o clima.


“A estabilização do clima exigirá reduções fortes, rápidas e sustentadas dos gases de efeito estufa e alcançar emissões líquidas zero de CO2. Limitando outros gases de efeito estufa e ar poluentes, especialmente o metano, podem ter benefícios tanto para a saúde quanto para o clima ”, disse o copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, PanmaoZhai.


O relatório do Grupo de Trabalho I é a primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (AR6), que será concluído em 2022.



Mitigação, soluções e pontos de virada:


O Mulheres Unidas pelo Clima (MUC Brasil) entrevistou Mercedes Bustamante, uma das principais pesquisadoras do Brasil no assunto e Membro Conselho Consultivo para Crise Climática (CCAG), que apontou a necessidade de esforços, coletivos, de governos por meio de políticas públicas, do setor privado, e das ações individuais (por meio de hábitos de consumo, pressões sobre o setor público e privado para ações concretas), como uma das estratégias que podem ajudar na mitigação dos impactos das mudanças climáticas para população brasileira.


“Em nível individual, temos a oportunidade de priorizar escolhas sustentáveis e exercer com consciência nosso poder de voto. Temos que eleger representantes que incorporem a questão ambiental como central para nossa economia e nosso bem-estar”, pontua.

O documento traz alerta também sobre o ponto de virada, ou tipping points, que são limites em determinados sistemas ou processos que se ultrapassados podem ter consequências abruptas ou drásticas, resultando em mudanças difíceis de serem revertidas ou mesmo irreversíveis.


“Os tipping points podem diferir em questão do tempo dependendo do sistema avaliado (degelo do Ártico, mudanças na circulação oceânica, florestas tropicais). As próximas décadas serão fundamentais para mudar a trajetória das emissões de gases de efeito estufa e reduzir as possibilidades dos tipping points”, esclarece a pesquisadora.


Impactos ainda maiores para mulheres e grupos sociais excluídos:


Recentemente um estudo elaborado pelo Grupo de Trabalho Gênero e Clima, do Observatório do Clima, resultou num infográfico que trouxe detalhes sobre as relações entre gênero e mudanças climáticas, com respostas sobre os impactos para as mulheres de forma mais intensa conforme sua classe social, etnia e raça.


De acordo com o GT a mudança climática, embora seja global, não atinge igualmente a todo mundo. As condições materiais e históricas de determinados grupos sociais influenciam seu grau de resiliência e de adaptação. Portanto é preciso combater as desigualdades de gênero, raça e classe pra construir uma sociedade sustentável.


Segundo Bustamante, a questão da equidade é um eixo norteador fundamental das ações de mitigação e adaptação à mudança climática. “Como sociedade, precisamos entender que a mudança climática afetará a todos mas que há setores e grupos sociais mais vulneráveis e que precisarão de mais investimentos e apoio”, destaca.


Cada região enfrenta mudanças crescentes


O relatório projeta que nas próximas décadas as mudanças climáticas aumentarão em todas as regiões. Para1,5 ° C de aquecimento global, haverá aumento das ondas de calor, estações quentes mais longas e menos temporadas de frio. A 2 ° C de aquecimento global, os extremos de calor atingiriam mais frequentemente a tolerância crítica para agricultura e saúde, mostra o relatório.


Mas não se trata apenas de temperatura. A mudança climática está trazendo várias mudanças diferentes em diferentes regiões - que irão aumentar com o aquecimento adicional. Isso inclui mudanças para umidade e secura, para ventos, neve e gelo, áreas costeiras e oceanos. Por exemplo:


● As mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água. Isso traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas mais intensas em muitas regiões.

● A mudança climática está afetando os padrões de precipitação. Em altas latitudes, a precipitação é provável que irá aumentar, enquanto se prevê que diminua em grande parte das regiões subtropicais.

● As áreas costeiras verão um aumento contínuo do nível do mar ao longo do século 21, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e severas em áreas baixas e erosão costeira. Eventos extremos ao nível do mar que ocorreram anteriormente uma vez em 100 anos podem acontecer todos os anos pelo final deste século.

● Um aquecimento adicional amplificará o degelo do permafrost e a perda da cobertura de neve sazonal,derretimento de geleiras e mantos de gelo e perda de gelo do mar Ártico no verão.

● Mudanças no oceano, incluindo aquecimento, ondas de calor marinhas mais frequentes, acidificação do oceano e níveis reduzidos de oxigênio têm sido claramente relacionados à influência humana. Essas mudanças afetam os ecossistemas oceânicos e as pessoas que dependem deles, e irão continuar ao longo deste século.

● Para as cidades, alguns aspectos da mudança climática podem ser amplificados, incluindo o calor (já que áreas são geralmente mais quentes do que seus arredores), eventos de inundação de forte precipitação e aumento do nível do mar nas cidades costeiras.


Pela primeira vez, o Sexto Relatório de Avaliação fornece uma avaliação regional mais detalhada de mudanças climáticas, incluindo um foco em informações úteis que podem informar a avaliação de risco, adaptação,e outras tomadas de decisão, e uma nova estrutura que ajuda a traduzir mudanças físicas no clima - calor, frio, chuva, seca, neve, vento, inundações costeiras e muito mais - sobre o que eles significam para a sociedade e ecossistemas.


Essas informações regionais podem ser exploradas em detalhes no Atlas interativo recentemente desenvolvido, bem como fichas técnicas regionais, o resumo técnico e subjacente do relatório.


O IPCC:

O Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima (IPCC) é um órgão científicoque busca fornecer avaliações regulares sobre mudançasclimáticas, suas implicações e potenciais riscos futuros, bemcomo apresentar opções de adaptação e mitigação, divulgandorelatórios sobre o tema.


Criado em 1988, no âmbito das Nações Unidas (ONU) por iniciativa da Organização Mundial de Meteorologia (WMO) e doPrograma de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), o IPCCé um painel intergovernamental, ou seja, está aberto a todos ospaíses membros da ONU e da Organização Mundial de Meteorologia - atualmente, 195 países estão inscritos incluindo o Brasil.


Saiba mais sobre o Grupo de Trabalho I do 6⁰ Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas


O relatório do Grupo de Trabalho I aborda a compreensão física mais atualizada do sistema climático e mudança climática, reunindo os últimos avanços na ciência do clima, e combinando múltiplas linhas de evidência do paleoclima, observações, compreensão do processo, global estimulações climáticas regionais.


Reúne, em números, 234 autores de 66 países, com mais de 14 mil referências citadas.

Jornalista responsável: Gisele Elis (MTB 6822) Informações com: Agência Bori

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